Parque Una e a Busca por um Novo Modelo de Cidade

Ao longo da história, as cidades evoluíram de forma orgânica, muitas vezes impulsionadas por interesses econômicos ou pela necessidade de abrigar grandes populações rapidamente. No Brasil, o crescimento urbano acelerado nas últimas décadas gerou cidades desiguais, mal conectadas e com grandes desafios de mobilidade, segurança e qualidade de vida.

A busca por um novo modelo de urbanismo tem ganhado força à medida que percebemos que o sistema atual não é suficiente. Nesse contexto, surge uma proposta inovadora: o Parque Una, um bairro planejado e aberto que procura responder a uma pergunta fundamental – como melhorar a cidade?

O Desafio de Planejar Cidades Complexas

IMAGEM – GOOGLE

A primeira parte dessa reflexão passa pelo reconhecimento de que as cidades são sistemas complexos. Como afirmou Jane Jacobs, uma das mais influentes pensadoras urbanas do século XX, as cidades não podem ser entendidas por partes isoladas – elas são um organismo vivo, onde tudo está interligado.

Tentativas de solucionar problemas urbanos por meio de ações fragmentadas, como os condomínios fechados, acabam ignorando esse princípio. Embora tragam conforto e segurança para alguns, essas soluções muitas vezes excluem, isolam e reduzem o espaço público, enfraquecendo o tecido urbano coletivo.

A Ideia por Trás do Parque Una

Com base nessa crítica, o Parque Una foi concebido como um bairro planejado aberto, diverso e integrado, onde moradia, trabalho, comércio, lazer e cultura coexistem de forma harmônica. O projeto surge como resposta a um conjunto de perguntas: Como criar uma cidade mais humana? Como fazer as pessoas ocuparem o espaço público? Como reduzir a dependência do automóvel?

Inspirado por experiências internacionais e pelas contribuições de importantes autores do urbanismo contemporâneo, o Parque Una visa transformar a lógica tradicional das cidades brasileiras, propondo um ambiente que favorece a convivência, a mobilidade ativa e a vida em comunidade.

O Que é o Parque Una?

Trata-se de um bairro completo, planejado para promover a urbanidade, a diversidade e a segurança, a partir da integração de diferentes usos do solo. Em vez de separar funções – uma área só de moradia, outra só de comércio, outra só de lazer – o Parque Una promove mistura e proximidade.

Essa proposta resulta em ruas mais vivas, com movimento ao longo do dia, o que contribui para a sensação de segurança e para a vitalidade econômica local. Comércios, cafés, academias ao ar livre, áreas verdes e habitação coexistem em um mesmo espaço urbano, incentivando a presença constante das pessoas nas ruas.

Além disso, o bairro foi pensado para ser acessível a todos, sem muros ou barreiras físicas, contrariando a lógica dos condomínios fechados e das cidades fragmentadas.

Como Melhorar a Cidade?

A resposta passa, inevitavelmente, por escutar boas ideias e experiências de sucesso. Graças a essa postura, a Idealiza Cidades — empresa responsável pelo projeto — não partiu do zero. Estudou, dialogou e se inspirou em pensadores que há décadas discutem cidades mais humanas, inclusivas e sustentáveis.

Cada aspecto do Parque Una foi concebido com uma pergunta em mente: isso vai melhorar a cidade? A arquitetura, o paisagismo, o uso do solo, a mobilidade e a relação com o entorno foram pensados como peças de um mesmo quebra-cabeça.

Autores que Inspiram o Parque Una

A força conceitual do projeto está ancorada em ideias de urbanistas, arquitetos e economistas que dedicaram suas vidas ao estudo da vida nas cidades:

  • Jane Jacobs: Destacou a importância do olhar humano sobre a cidade e a necessidade de promover espaços públicos vibrantes, com diversidade de usos. Defendeu que a simples presença das pessoas nas ruas é uma poderosa ferramenta de segurança urbana.
  • Jan Gehl: Arquitetura voltada para as pessoas. Seus estudos sobre o comportamento humano no espaço público fundamentam a criação de ambientes acolhedores, com mobilidade a pé e em bicicleta.
  • Richard Florida: Introduziu o conceito de “classe criativa” e mostrou como cidades que atraem talentos e promovem a diversidade econômica prosperam mais. Sua visão foi crucial para o Parque Una incluir hubs de inovação e espaços para empreendedores.
  • Andrés Duany: Co-fundador do Novo Urbanismo, propôs comunidades mais compactas, acessíveis e voltadas para o pedestre, com menor dependência do carro. Influenciou diretamente o desenho urbano do Parque Una.
  • Edward Glaeser: Economista urbano que vê a diversidade e a inovação como motores do desenvolvimento das cidades. Defende a revitalização de áreas urbanas como polos de criatividade e troca de ideias.
  • Alain Bertaud: Especialista em dinâmica espacial, discutiu como o mercado imobiliário molda as cidades. Suas ideias reforçam a importância de conectar habitação e trabalho para reduzir deslocamentos e melhorar a eficiência urbana.
  • Richard Rogers: Arquiteto visionário, defensor de cidades compactas, sustentáveis e integradas. Enfatizou a arquitetura ambientalmente responsável e a criação de centros urbanos acessíveis.

Esses autores contribuíram para moldar um pensamento contemporâneo de cidade: um espaço que funcione como um ecossistema interdependente, com infraestrutura de qualidade, vida pública ativa e equidade no acesso aos recursos urbanos.

Um Modelo para Repensar o Urbanismo Brasileiro

O Parque Una não se propõe como um modelo definitivo ou universal, mas sim como um exemplo de que é possível fazer diferente. Ele mostra que o planejamento urbano pode ser centrado nas pessoas, promovendo uma cidade mais acolhedora, eficiente e democrática.

Ao invés de reforçar o individualismo dos muros, propõe o encontro no espaço comum. Ao invés de favorecer apenas o automóvel, promove a mobilidade ativa e sustentável. E ao invés de segmentar a cidade, propõe a integração entre diferentes funções e grupos sociais.


Conclusão: Caminhos para o Futuro Urbano

A busca por um novo modelo de cidade passa, necessariamente, por repensar as escolhas que moldam nosso espaço urbano. Projetos como o Parque Una sinalizam que há alternativas possíveis, sustentadas por conhecimento, planejamento e compromisso com a coletividade.

Cidades não são apenas conjuntos de edifícios e ruas – são espaços de vida, convivência, troca e pertencimento. Melhorar a cidade é melhorar a vida. E isso começa com boas ideias, como as que inspiraram o Parque Una.

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